Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Crónicas Locais: 274- Avenida do Castanheiro


quarta, 02 outubro 2019

O Luso-Bussaco tem três avenidas: a Emídio Navarro, a do Castanheiro e a Avenida do Mosteiro. Todas elas, rodeadas de árvores e outra vegetação abundante, estão mais ou menos votadas ao abandono, mais ou menos esquecidas, mais ou menos ao largo das preocupações dos eleitos locais no que respeita ao turismo e sua inserção na freguesia. E estas avenidas, todas elas, estão dentro e fazem parte dos únicos recursos turísticos deste município, todos eles na freguesia do Luso. Se a Avenida Navarro está mais ou menos apresentável no seu corpo central, já o não está nas suas margens, onde impera a vegetação selvagem, a sujidade e, curiosamente, em pleno enquadramento da Fonte das Onze Bicas, está infestada de silvados gigantes e arvoredo por limpar onde não entra ferramenta de limpeza há anos. E de fogos nem falamos porque nos parecem fora da lei os terrenos respetivos, gozando de imunidade.

A Avenida do Mosteiro, no Bussaco, a outra Avenida, é agora uma artéria dentro dos negócios da Mata Nacional. Debilitada, doente, goza dos restos em pé das árvores que vão cortando, morrendo e vão levando ou vendendo em contas de secretismo. E, finalmente, a Avenida do Castanheiro, a do boneco, do Manel que, com o nariz partido, ainda vai largando, desde 1890, um fio de água canalizada dos depósitos públicos e não da mina. Também ela, de água férrea, há anos suja por falta de cuidados, de arranjos e limpeza, foi posta de parte no seu fio de nascente. Neste preciso momento, esta fonte do boneco, rodeada pelo belo varandim de ferro que a circunda, uma obra de arte de ferreiros desconhecidos, é a imagem deprimente do abandono total. Não há eleitos, não há espécie alguma de políticos, de amigos ou coisa semelhante, que lhe dê a mão e recolha os montes de folhas dos plátanos enfezados que se perfilam por centenas de metros, ou que se preocupe com as gigantescas plantações de silvas que da margem norte da Avenida preenche o espaço até á ribeira de Várzeas, que corre ao fundo quando tem água. Os bancos debruçados sobre a paisagem do vale profundo desapareceram do sítio, as sebes e arbustos de jardim sumiram-se, a limpeza diária do característico lugar de paz e de repouso, foi-se, com a mecanização do serviço e o fim da Junta de Turismo Luso-Bussaco. E, se bem se lembram, esta Fonte do Manel (1890) já foi o lugar central desta Avenida aprazível chamada do Castanheiro. Foi um lugar asseado de pureza ambiental, de paisagem aberta e longa, um vale tranquilo e sereno apenas perturbado pelos comboios que deslizavam ao fundo na linha da Beira Alta num horário prometido. Pergunta-se para que se elegem pessoas para fazer a gestão da freguesia ou do município? Pergunta-se porque e para que somos obrigados a pagar-lhe um soldo não desprezível, se a gestão do território é esta que se vê. Logo após o fim da mesma Avenida, a Junta Autónoma de Estradas ou quem a representa, colocou um ótimo tapete no pavimento na estrada 336 que vai da serra do Bussaco ao Caramulo, por terrenos que em tempos já se chamaram de Alcoba. Mas o poder local, esse faz festas, gasta o erário público em danças e cantares, em folias e foguetes, queimando a riqueza que não produzem, por conta dos votos que a democracia afunilada os perpetue no tacho. Incentivar ou facilitar o investimento reprodutivo para criar emprego e riqueza não lhes move o intelecto nem lhes aclara ideias, afinal, seja de que maneira for, o dinheiro fácil cai-lhes do céu ao fim do mês e é imune à justiça dos homens. 

Não é como a velha história da cigarra e da formiga; cantavas, pois dança agora! Não, o contribuinte eleitor é obrigado a repor os deficits para que a autarquia continue a gastar à grande e à francesa, sem prestar contas a ninguém. A nossa cigarra está blindada pela lei que ela própria a si dedica. Pelos preços a que ela própria se faz pagar. Pela imunidade que a Assembleia da República lhe reserva, votada pelos próprios. Pelas influências que o clube partidário lhes fornece e apoia em proveito dos seus “sócios”. Vezes de mais pela nulidade das ideias, pela infantilidade, pelo desconhecimento, por uma corrupção entendida sem isenção, como favores e amizades e famílias, como se lê na imprensa. Numa cultura democrática que não existe em muitos quando tem em mãos, casual e inutilmente, um pedaço de poder. Esta é a democracia que é preciso mudar, dando-lhe a seriedade que não tem para que os eleitores, permanentemente enganados, não fujam dela para se refugiarem em populismos e ameaças piores.

Também as avenidas do Luso, a própria terra e Termas são objeto da podridão dos tempos, das influências nefastas, da pequenez das ideias que vem da pequenez das terras, ou da política exercida pelos antigos mordomos das festas paroquiais, até onde abrange hoje a margem da família e do peditório da classe dos políticos. Enquanto assim for, é permitida a destruição das Termas, da indústria hoteleira, do património construído, das Terras, das Matas Nacionais, dos Recursos Turísticos, das florestas nos incêndios, com base num ordenado de 600 euros mensais que não dá para comer. Isto é parte do Portugal onde vivemos e que devia envergonhar a classe política e as extensões partidárias que precisam de reforma e de novas gerações. 

O mundo civilizado mudou, não é este, mas há muito quem nunca tenha saído do antigo, das festas e romarias e o julgue hoje como já não é. O que existe é novo, mudança e uma via veloz para a inteligência artificial. Feita de bites e sheaps. Quem o mantém parado, mata-o. E pouco se progrediu em relação ao Estado Novo.

Luso, Setembro,2019