A pandemia, o confinamento e os impactos na saúde mental
Novembro 2019
Algures no final do mês de novembro, começamos a ouvir através da comunicação social que, lá longe, numa cidade chinesa chamada Wuhan, um vírus (ao qual deram o nome de Covid-19) estava a dizimar a comunidade local e proliferava com tal velocidade que se tornava difícil combatê-lo.
Mais tarde, já não era só nessa cidade. O vírus havia-se propagado por toda a China e ameaçava, agora, chegar aos outros continentes.
Por aqui, mesmo com todas as notícias que nos chegavam diariamente, este cenário parecia-nos estar tão longe, que a sensação que nos dava era a de que nunca iríamos viver tal pandemia.
Março 2020
O Covid-19 chega a Portugal, à nossa terra, às nossas vidas.
Um vírus desconhecido, do qual pouco ou nada se sabia, e porque é precisamente de tudo o que não se conhece que nasce o medo, com ele vieram a insegurança, a aflição e o pânico. Impuseram-se novas regras, novos deveres e obrigações que resultaram em mudanças completamente radicais, implantadas no dia a dia de cada um de nós, com a finalidade de proteger a saúde física da população, mas acabando por condicionar e lesar a sua saúde mental.
A cura não passava por uma terapêutica farmacológica e a sua forma de prevenção e tratamento exigia outros recursos que iriam testar a capacidade de adaptação e a saúde mental de todos.
A pandemia trouxe a exigência do confinamento, do isolamento social, do “fique em casa”, do “não saia pelo seu bem e pelo bem de todos”. As relações afetivas e a comunicação, que tanto são fundamentais para o bem-estar do indivíduo, foram diminuídas e o medo, os receios e a desconfiança passaram a prevalecer no nosso dia-a-dia.
As alterações de hábitos e de rotinas, a crise económica e a incerteza do futuro irão continuar a ter um impacto fortíssimo na estabilidade psíquica da nossa população, não fazendo qualquer distinção entre os mais novos ou os mais velhos.
A incerteza, o stress, o medo, a ansiedade e a perda de quem se ama (luto), estão a despoletar várias perturbações do foro mental tais como: ataques de pânico, transtornos obsessivo-compulsivos ou depressão. Estas patologias estão cada vez mais acentuadas, porque se no início se acreditava que passados uns meses de sacrifício e de paciência tudo regressaria à normalidade, agora esta esperança do “vai ficar tudo bem”, está moribunda perante o enorme surto que atualmente vivemos e que, provavelmente, nos irá acompanhar por um longo período.
Reconhecer que é legítimo que sintamos mudanças significativas no nosso modo de viver e sentir, é o primeiro passo para a promoção da saúde mental!
Cada um de nós terá de reorganizar os seus recursos de forma a conseguir enfrentar as exigências às quais estamos expostos, sem nunca esquecermos que podemos estar fisicamente isolados, mas que esse facto não é sinónimo de estarmos afetivamente sós!
É fundamental recriarmo-nos nessa nova forma de “socializar e conviver”, seja criando um grupo de chat entre amigos, reforçando a frequência nos contactos telefónicos com familiares, fazendo as tão divertidas vídeo-chamadas com quem melhor o conhece e pode ajudar a levantar o ânimo… O mais importante é que converse e não alimente a solidão!! Converse sobre as suas preocupações e receios, sobre as suas rotinas ou sobre os seus objetivos futuros, pois partilhar com outrem ajuda a lidar com toda a carga emocional que se sente.
Não cultive pensamentos negativos, do género “a pior desgraça que aconteceu”. Pensamentos negativistas e uma linguagem focada na crítica negativa não permitem que se tenha vontade de mudar e de vencer. Selecionar a informação e distanciar-se de notícias que promovem a tragédia é permitir-se preservar a sua saúde psíquica.
Aceitar o passado, viver o presente e acreditar num futuro próspero permite uma desconstrução de sentimentos de angústia e de pessimismo, e possibilita a construção no acreditar que, por mais adversidades que haja, existem também inúmeros recursos e capacidades para a superação, para seguir em frente!
Reorganizar as rotinas diárias, apostar num estilo de vida saudável com os horários adequados (não trocar o dia pela noite), uma alimentação equilibrada, as atividades recreativas/lazer e atividade física são tarefas que não se podem esquecer e que devem ser adotadas, porque geram sensações de tranquilidade e prazer, o que por sua vez, ajudam na promoção da estabilidade da psíquica.
Neste momento de crise, a procura de apoio e ajuda psicológica, permite à pessoa ser ajudada a lidar e superar as situações de sofrimento. Tal como se procuram outras especialidades para tratar as dores físicas, o apoio psicológico e a psicoterapia cuidam e tratam das “dores da alma” e é graças a essa relação terapêutica que se auxilia o paciente na gestão das suas emoções e queixas, promovendo a minimização do seu sofrimento psicológico e o incremento do seu bem estar e equilíbrio emocional.
Dr.ª Sandra Martins
Psicóloga Especialista
em Psicologia Clínica e da Saúde
e Especialidade em Psicoterapia