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Cinco anos de Pandemia: O Impacto da COVID-19 em Portugal


quinta, 17 abril 2025

No dia 18 de março de 2020, Portugal entrava no seu primeiro confinamento para conter a propagação da COVID-19. Cinco anos depois, o país contabiliza cerca de 5,6 milhões de casos registados e 28 mil mortes diretamente relacionadas com o vírus.

Os picos da pandemia

O período mais crítico em termos de infeções ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2022, quando se atingiram mais de 40 mil casos diários, chegando a um impressionante pico de quase 70 mil num só dia. Apesar do elevado número de infetados, a vacinação já estava em curso, reduzindo a gravidade dos sintomas na maioria dos casos.

Já o pico de internamentos aconteceu um ano antes, entre janeiro e fevereiro de 2021, quando os hospitais portugueses enfrentaram uma enorme pressão. Nessa altura, registavam-se mais de 4 mil internamentos diários, tendo-se atingido um máximo de quase 7 mil hospitalizações num só dia. Foi uma fase de grande preocupação para as autoridades de saúde, que tiveram de reforçar a capacidade hospitalar para lidar com o número crescente de doentes em estado grave.

O primeiro "Lockdown" e as restrições

A 18 de março de 2020, o governo português decretava o estado de emergência, iniciando um período de confinamento que mudaria drasticamente o quotidiano da população. O encerramento de escolas, comércio e a limitação da circulação marcaram os primeiros meses da pandemia.

Ao longo dos anos, foram adotadas diversas medidas, incluindo uso obrigatório de máscara, confinamentos parciais e sucessivas campanhas de vacinação, que desempenharam um papel crucial na contenção do vírus.

O legado da pandemia

Cinco anos depois, a COVID-19 já não domina as manchetes nem representa uma ameaça tão grande como no passado, mas o seu impacto ainda se faz sentir. O sistema de saúde foi forçado a adaptar-se, e a sociedade teve de se reajustar a uma nova normalidade, onde as precauções sanitárias e a vacinação continuam a desempenhar um papel essencial.

Impacto nos utentes e profissionais de saúde

No Hospital Misericórdia da Mealhada, a responsável de enfermagem, Carina Soares, com 17 anos de serviço, partilha o impacto duradouro da pandemia na prática clínica e na mentalidade dos profissionais de saúde e utentes. “Com a COVID-19, tivemos de reorganizar tudo — desde os recursos humanos até aos protocolos de atendimento”, afirma. “Práticas básicas como a higiene das mãos e a etiqueta respiratória passaram a ser valorizadas de forma inédita, tanto por profissionais como pela população em geral”, acrescenta a enfermeira responsável.

Carina Soares destaca ainda o reforço da atitude preventiva e o aumento da consciencialização dos utentes: “As pessoas percebem hoje melhor os riscos a que estão sujeitas e sabem que devem proteger-se e proteger os outros. Essas mudanças vieram para ficar.”

A enfermeira realça também o papel da tecnologia digital na aproximação durante a crise pandémica, com a introdução de videochamadas em consultas e formações online. “Os webinars proliferaram e hoje fazem parte da nossa rotina”, explica.

Apesar de a COVID-19 ser atualmente tratada como uma infeção respiratória comum, a mensagem de Carina Soares é clara: “Devemos tirar lições da pandemia e manter as boas práticas de prevenção. Pequenos gestos fazem a diferença.”

Questionada sobre quais os ensinamentos que os profissionais de saúde e utentes guardam para o caso de no futuro outra pandemia assolar o mundo a enfermeira do Hospital da Misericórdia responde: “será necessário reproduzir os ensinamentos e as informações aprendidos durante a COVID. Já todos percebemos que estas medidas são um passo importante para resultados mais rápidos”.

Mudanças nas unidades geriátricas da SCMM

Também na Santa Casa da Misericórdia da Mealhada (SCMM), a diretora do Serviço de Gerontologia, Marina Jacinto, partilha uma visão semelhante. “Apesar de muitas coisas já terem voltado à normalidade, há práticas que ficaram e que são positivas. Os cuidados com os doentes, com as visitas, o uso de máscara por parte de colaboradores com sintomas, a presença constante de desinfetantes... tudo isso se mantém”, afirmou.

Para a profissional com seis anos de serviço na instituição, a pandemia trouxe hábitos de prevenção que ultrapassam a COVID-19: “Seja com o COVID ou qualquer outra doença infeciosa, são boas medidas que acabaram por se manter.”

Marina Jacinto sublinha ainda que a experiência acumulada preparou melhor as instituições para uma eventual nova crise: “Hoje estamos muito mais preparados do que na altura. Sabemos como atuar, como estruturar equipas, como isolar casos. Os planos de contingência já existem e seriam facilmente reativados.”

Cinco anos após o início da pandemia de COVID-19, é evidente que o impacto desta crise sanitária ultrapassou em muito o domínio da saúde, deixando marcas profundas na sociedade portuguesa. As mudanças vividas, desde os confinamentos às transformações nos hábitos de prevenção, moldaram uma nova forma de encarar o quotidiano, tanto no plano pessoal como no profissional. A resiliência demonstrada pelas instituições de saúde e a rápida adaptação de profissionais e utentes foram fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelo vírus. Hoje, com a experiência acumulada, Portugal encontra-se mais preparado para futuras adversidades sanitárias, tendo aprendido que pequenas mudanças de comportamento podem ter um impacto significativo na proteção coletiva. A pandemia ensinou-nos que a prevenção é, acima de tudo, um ato de responsabilidade e solidariedade.