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As Festas do Magusto, de todos os santos e do “Halloween”. Seu significado e antecedentes e influência nelas exercida pela calendarização do tempo. (Parte VII)


quarta, 20 fevereiro 2019

d) Uma forma peculiar de festejar o Magusto - O Magusto da Velha

É uma tradição popular, com características únicas em Portugal, que se realiza há cerca de 320 anos, em Aldeia Viçosa, dos arredores da cidade da Guarda, sempre a seguir ao dia de Natal.

Manda o costume que, após o almoço, a população da freguesia se junte no largo da igreja, em redor das brasas do madeiro da noite anterior, e espere pela “chuva” de castanhas que são atiradas da torre do templo, sempre com os sinos a repicar insistentemente. O povo apanha-as do chão e assa-as, de seguida, nas brasas que restam da fogueira natalícia. Segue-se o afamado magusto, acompanhado de bom vinho. Neste dia, que termina à noite com um bailarico, comem-se, em média, 150 quilos de castanhas e bebem-se 150 litros de vinho. Tudo para brindar à velha.

A tradição remonta a 1698 e tem origem numa herança de 24 escudos e 60 centavos deixada por uma mulher muito idosa e muito abastada, a "velha", já que o seu nome se perdeu no tempo.

Com o legado – que ainda hoje rende à Junta de Freguesia 14 cêntimos de três em três meses, depositados na conta bancária da autarquia pelo Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP) - a benemérita quis dar ao povo o prazer de comer castanhas e beber vinho um dia por ano. Porém, a troco da doação, a mulher exigia à igreja que, também num dia por ano, lhe rezasse um Padre Nosso pela sua alma.

Há uns seis ou sete anos, o IGCP quis comprar a herança. Ofereceu à Junta de Freguesia três mil euros por ela, mas o povo recusou aceitar tal compra, porque estava em causa “a memória e uma parte da sua história” e da própria Freguesia de Aldeia Viçosa. (Wikipédia e “História de Portugal”, de José Mattoso, “História de Portugal”, de Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro e “História de Portugal”, de A. H. de Oliveira Marques).

Bom Magusto! Peço desculpa pelo tempo que vos roubei e pela vossa paciência em me terem escutado.

 

Nuno Salgado, presidente da Associação de Aposentados da Bairrada, in «Festa de S. Martinho»